sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Machado de Assis, de Padre Vieira e Guimarães Rosa

Em 2008, lembramos de Machado de Assis, de Padre Vieira e Guimarães
Rosa, gigantes da literatura brasileira. Foi o ano em que, após mais
de uma década, aprovou-se o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa,
que pode contribuir para que o português seja um dos idiomas oficiais
da ONU. Aprofundou-se a relação desta antiga mídia que é o livro com
as novas tecnologias, descobrindo-se novas plataformas de leitura -
caso dos celulares.

Mas também foi um ano fértil em discussões sobre políticas
públicas para o livro e a leitura. Na próxima edição do Boletim do
PNLL, iremos lembrar de alguns eventos que marcaram 2008. Agora, é
tempo de refletirmos sobre os rumos que foram tomados e o papel
estratégico que o PNLL exerceu para fazer cumprir sua missão
principal: induzir e colaborar para a construção de uma Política de
Estado para que, junto com a Sociedade, se desenvolva a capacidade
leitora de todo o povo brasileiro.

Durante o II Fórum do Plano Nacional do Livro e Leitura,
que aconteceu em agosto, já foi possível apontar para uma importante
mudança de mentalidade e da aceitação do PNLL como ponto de reflexão e
referência para as políticas públicas do setor. O Ministério da
Educação, que ano a ano intensifica a distribuição de centenas de
milhões de livros didáticos, passou a priorizar também a aplicação de
recursos na formação de professores-leitores, a criação de bibliotecas
em salas de aula e abriu o debate com a sociedade para a reintrodução
da literatura como matéria curricular. No Ministério da Cultura, a
aplicação integral dos planos do "Mais Cultura" na área do livro e
leitura pode significar uma verdadeira revolução no sistema de
bibliotecas públicas e nas formas de se relacionar com os potenciais
leitores, através dos Pontos de Leitura e dos Agentes de Leitura.

Um dos acontecimentos mais importantes na área do apoio
político à luta por uma sociedade leitora foi a criação da Frente
Parlamentar pela Leitura, liderada pelo deputado Marcelo Almeida. As
iniciativas pelo fortalecimento político estratégico da leitura para
os brasileiros, que já vinham sendo tomadas pelo poder executivo e
pela sociedade agora contam com o apoio de enorme contingente de
deputados e senadores da república.

Por iniciativa de editores, escritores e livreiros, foi
retomado o debate para a maior institucionalização do livro e da
leitura junto ao governo federal, com a entrega de Manifesto que
propõe a recriação da Secretaria Nacional do Livro e Leitura ao
ministro Juca Ferreira durante a Bienal Internacional do Livro de São
Paulo. Nesse mesmo manifesto selaram-se, mais uma vez, o apoio do
mercado livreiro ao PNLL e às outras iniciativas governamentais. O
assunto evoluiu com a proposta posterior do ministro em criar o novo
Instituto Nacional do Livro e Leitura, tema também debatido no
Congresso Nacional quando se realizou, por iniciativa da Frente
Parlamentar pela Leitura, o I Seminário de Políticas de Incentivo à
Leitura no Brasil. Na ocasião, o ministro da Cultura, apoiado pelos
deputados e senadores presentes, afirmou que o INLL é essencial para o
desenvolvimento do patamar alcançado pelo MinC na área do livro e da
leitura, tarefa das mais complexas e importantes do Ministério. Embora
o debate ainda prossiga, o MinC já deu mais um passo para recolocar o
livro e a leitura nos patamares mais altos do Ministério: acaba de ser
criada a Diretoria do Livro e Leitura, vinculada à Secretaria Geral do
Ministério e que substitui a Coordenadoria Geral do Livro e Leitura.

Outra ação importante que envolveu esses setores em 2008
avançou mais alguns passos, inclusive com o importante aval de parte
expressiva do Congresso Nacional, foi o debate em torno do Fundo
Pró-Leitura, cuja proposta é arrecadar 1% do mercado livreiro
nacional, cerca de R$ 50 milhões anuais, para ações que democratizem o
acesso ao livro e transformem a qualidade da capacidade leitora no
Brasil. 2009 será crucial para encerrar a fase de debates e instituir
de uma vez por todas o fundo, que provavelmente ocorrerá no formato de
Fundo Setorial da Leitura, vinculado ao Fundo Nacional de Cultura.

Por fim, cabe registrar a intensificação da troca de
experiências nacionais e internacionais na área de promoção, mediação
e incentivo à leitura. Eventos como o Seminário Literatura na Escola,
o I Seminário Internacional de Bibliotecas Públicas e Comunitárias, o
II Fórum do Plano Nacional do Livro e Leitura e o III Seminário do
Plano Nacional do Livro e Leitura no Mercosul (veja notas abaixo)
proporcionaram o intercâmbio cultural tanto entre as regiões do Brasil
quanto entre os países da América Latina.

São estes os desafios postos para continuarmos a construir
as bases do desenvolvimento da leitura no Brasil. E aqui se reafirma a
intenção de manter e fazer crescer o PNLL como um instrumento que
induz às políticas de desenvolvimento do livro e da leitura, de espaço
de diálogo e inter-relação, de convívio e expressão democrática do
lugar e do papel da leitura na sociedade brasileira.

Pontos de Leitura

Foram publicados na edição 248 do Diário Oficial da União
os nomes dos vencedores do concurso Pontos de Leitura 2008: Homenagem
a Machado de Assis. Cada projeto receberá um kit composto por 500
exemplares de material bibliográfico, sendo 50% de obras de ficção,
25% de não-ficção e 25% de referência; um computador; e mobiliário
básico para biblioteca. As iniciativas selecionadas estão presentes
nos 410 municípios atendidos pelo Programa Territórios da Cidadania
2008, nas áreas do Programa Nacional de Segurança Pública com
Cidadania (Pronasci) e municípios prioritários do Mais Cultura (leia
mais sobre o Concurso Pontos de Leitura).

Uma biblioteca para o Mercosul

Durante III Seminário do Plano Nacional do Livro e Leitura
no Mercosul, realizado em São Paulo durante dias 26 e 27 de novembro,
o Brasil apresentou a proposta, aceita por unanimidade, de criar uma
biblioteca do Mercosul. A idéia é estimular o intercâmbio cultural
entre os países da região, com cada um selecionando mil títulos dentre
seus autores e os doando aos demais membros. Periodicamente, seriam
feitas atualizações. A medida deverá agora ser discutida por cada um
dos países-membros para sua viabilização e implantação.

Participação de países do Mercosul nas feiras regionais

Outra proposta discutida no III Seminário do Plano
Nacional do Livro e Leitura no Mercosul e que ganhou o apoio de todos
os presentes foi a de que os países-membros passem a convidar os
demais para participação em suas feiras de livro, de modo a promover a
circulação de obras, autores e informações sobre seus planos de livros
e leitura. A medida viria fortalecer a difusão de autores nacionais
nos países da região. Também se cogitou a criação do Prêmio Mercosul
para a estimular iniciativas que promovam a renovação da pedagogia
aplicada à leitura e escrita. A instituição do prêmio permitiria o
fortalecimento de uma base de dados sobre as experiências
bem-sucedidas.

Fortalecimento de bibliotecas escolares e públicas

A necessidade do fortalecimento das bibliotecas escolares
e públicas foi amplamente discutido durante o seminário do PNLL no
Mercosul, incluindo tanto a formação dos profissionais que nelas
atuam, como também sua forma de gestão. Nesse sentido, foi reforçada a
importância de cada município contar com uma biblioteca. Foram
destacados, ainda, o plano colombiano de implantação de bibliotecas em
áreas rurais e indígenas e o projeto chileno "Ler antes de apreender a
ler", voltado para crianças de três a cinco anos de idade. E se
levantou a idéia de se instalar uma rede de bibliotecas públicas do
Mercosul, reunindo os responsáveis nacionais pelas bibliotecas
públicas. Essa instância permitiria intensificar os trabalhos de
intercâmbio de informação, programas de formação, promoção da
institucionalização dos sistemas de bibliotecas e produção de material
de apoio para formação e gestão de projetos especiais.

Biblioteca Nacional de Brasília começa a funcionar

A primeira inauguração foi há dois anos, mas uma polêmica
sobre a incidência do sol no edifício, que prejudicaria o acervo,
impediu que ela começasse a funcionar. Agora, desde o último dia 11 de
dezembro, as instalações da Biblioteca Nacional de Brasília estão
abertas com 50 mil livros à disposição e a expectativa da visita de
três mil a cinco mil pessoas por dia. Segundo a Agência Brasil, "o
Ministério da Cultura fez um repasse de R$ 2,5 milhões, que deve ser
publicado no Diário Oficial da União nos próximos dias". Dinheiro que
deve ser destinado para a compra de mais de 150 mil exemplares.

Biblioteca supre necessidade de leitura em Alagoas

Localizado em uma região onde havia defasagem de material
literário para alunos de escolas estaduais e municipais de São
Sebastião em Alagoas, o projeto Biblioteca Comunitária de São
Sebastião, tem como objetivo principal suprir essa carência,
organizando uma biblioteca principalmente em torno de livros doados. A
iniciativa ainda estimula o combate à exclusão social, além de
promover eventos culturais abertos a toda a população da região.
Integrante do Eixo 1 do PNLL (Democratização da Leitura), a biblioteca
atende a todas as pessoas do município, fazendo parcerias com diversas
entidades para fomentar o hábito de leitura.

Plano Nacional do Livro Didático abre inscrições para 2011

Estão abertas as inscrições, no âmbito do Plano Nacional
do Livro Didático de 2011 - PNLD 2011, para o processo de avaliação e
seleção de coleções didáticas destinadas aos alunos dos anos finais do
ensino fundamental 1. De acordo com o edital, o cadastramento ocorre
dos dias 12/01 a 27/03/2009 e a entrega das coleções e da documentação
ocorrerá entre os dias 13 e 17/04 do mesmo ano. Após este prazo, os
livros serão avaliados em termos de qualidade por uma comissão.

Dicas de leitura

Milagre do Natal, de Afonso Henriques de Lima Barreto
"O bairro do Andaraí é muito triste e muito úmido. As
montanhas que enfeitam a nossa cidade, aí tomam maior altura e ainda
conservam a densa vegetação que as devia adornar com mais força em
tempos idos. O tom plúmbeo das árvores como que enegrece o horizonte e
torna triste o arrabalde.
Nas vertentes dessas mesmas montanhas, quando dão para o
mar, este quebra a monotonia do quadro e o sol se espadana mais
livremente, obtendo as cousas humanas, minúsculas e mesquinhas, uma
garridice e uma alegria que não estão nelas, mas que sê percebem
nelas. As tacanhas casas de Botafogo se nos afigura assim; as
bombásticas "vilas" de Copacabana, também;
Era numa rua desse bairro que morava Feliciano Campossolo
Nunes, chefe de seção do Tesouro Nacional, ou antes e melhor:
subdiretor. A casa era própria e tinha na cimalha este dístico
pretensioso: "Vila Sebastiana". O gosto da fachada, as proporções da
casa não precisam ser descritas: todos conhecem um e as outras. Na
frente, havia um jardinzinho que se estendia para a esquerda, oitenta
centímetros a um metro, além da fachada. Era o vão que correspondia à
varanda lateral, quase a correr todo o prédio. Campossolo era um homem
grave, ventrudo, calvo, de mãos polpudas e dedos curtos. Não largava a
pasta de marroquim em que trazia para a casa os papéis da repartição
com o fito de não lê-los; e também o guarda-chuva de castão de ouro e
forro de seda. Pesado e de pernas curtas, era com grande dificuldade
que ele vencia os dous degraus dos "Minas Gerais" da Light,
atrapalhado com semelhantes cangalhas: a pasta e o guarda chuva de "
ouro". Usava chapéu de coco e cavanhaque."
Leia o texto na íntegra

Chove. É dia de Natal, de Fernando Pessoa
Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
Leia outras poesias de Fernando Pessoa

Favoritos

Cruz e Souza (1861 - 1898)

O coração de todo o ser humano
Foi concebido para ter piedade,
Para olhar e sentir com caridade
Ficar mais doce o eterno desengano.

Para da vida em cada rude oceano
Arrojar, através da imensidade,
Tábuas de salvação, de suavidade,
De consolo e de afeto soberano.

Sim! Que não ter um coração profundo
É os olhos fechar à dor do mundo,
ficar inútil nos amargos trilhos.

É como se o meu ser campadecido
Não tivesse um soluço comovido
Para sentir e para amar meus filhos!

a.. Biografia
b.. A poesia interminável
c.. Broquéis
d.. Faróis
e.. Missal
f.. Últimos sonetos
g.. O Livro Derradeiro
h.. Poemas Humorísticos e Irônicos
i.. Resenha do filme Cruz e Sousa - o Poeta do desterro

Prêmios Literários

35ª Seleção Anual FNLIJ - Prêmio FNLIJ 2009 (Produção 2008)
Período de inscrições: até 31 de dezembro de 2008
Aberto a: todos os profissionais do livro e editoras que
tenham títulos em língua portuguesa.
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5º Prêmio Barco a Vapor
Período de inscrições: até 28 de fevereiro de 2009
Aberto a: a todos os escritores com mais de 18 anos que
apresentem originais dirigidos a leitores entre 6 e 13 anos.
Premiação: R$ 30 mil
Mais informações

VIII Prêmio Livraria Asabeça 2009
Período de inscrições: 30 de junho de 2009
Premiação: um contrato de edição e impressão