sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Perspectivas

Os últimos anos demonstram que houve uma efetiva retomada de planos e
ações que refletem a construção de novas e/ou renovadas perspectivas
para o desenvolvimento de uma verdadeira política para o livro e a
leitura no Brasil. O ano de 2008 está pleno de bons exemplos. O ano
que se inicia tem o dever de avançar nas metas estabelecidas e, ao
mesmo tempo, ter forças para superar as barreiras que impediram
algumas metas importantes se concretizarem. O ideal que orientou todo
o trabalho feito até aqui, tendo como epicentro o PNLL, foi a
transformação das ações em prol do livro e da leitura em Política de
Estado, ou seja, uma política pública permanente e realizada acima dos
interesses meramente locais, conjunturais ou partidários.

Abertos os dois últimos anos de mandato do atual governo,
que implantou essa política, é chegada a hora de intensificar a
implementação dessas políticas.

Já é o momento, por exemplo, de se instituir de maneira
definitiva e firme o Fundo Pró-Leitura, compromisso empresarial já tão
falado e acordado desde 2004 com a isenção de pagamento do PIS/COFINS,
e que necessita ainda o encaminhamento de propostas do Executivo ao
Legislativo para sua efetiva criação. O MinC acena com a criação do
Fundo Setorial da Leitura, vinculado ao Fundo Nacional de Cultura,
questão técnica que não deve atrasar ainda mais essa importante fonte
de financiamento da Política de Estado que se quer implantar. E a
crise econômica mundial não deve ser impedimento em 2009! Como lembrou
o Presidente Lula, durante o lançamento do Fundo Setorial do
Audiovisual, "é, justamente em época de crise, que temos de anunciar
investimentos".

Outra meta para este ano é intensificar a capilarização do
PNLL, de modo que cada estado e cada município tenham seus projetos e
programas de incentivo à leitura - os Planos Estaduais e os Planos
Municipais de Livro e Leitura. Trata-se de uma etapa importante para o
cumprimento das metas nacionais relacionadas ao livro e à leitura,
considerando que cada região tem melhores condições de trabalhar com
seus elementos culturais específicos. Alguns estados e capitais já
deram passos importantes em 2008. Vamos aprofundar esta tendência
virtuosa.

Consideramos também que 2009 deva ser o ano que marque um
movimento importante para a formação de mediadores de leitura, assim
como 2008 marcou o início da modernização das bibliotecas e da
implantação dos pontos de leitura. Reunir os especialistas e os
milhares de mediadores de leitura que existem no país, integrá-los,
prestigiá-los, estabelecer um sistema permanente de formação e de
recursos é resolução estratégica para 2009. O PROLER e os
recém-lançados Agentes de Leitura do Programa Mais Cultura, ambos do
MinC, serão fundamentais nesta empreitada, juntamente com os
mediadores professores que atuam no âmbito do MEC. A ação conjunta de
ambos os Ministérios será mais uma vez fundamental. Se concretizadas,
essas medidas unirão o fornecimento de bases materiais (livros,
estantes, computadores etc.) ao imprescindível componente humano que
deve acompanhar cada uma dessas ações. Sem recursos humanos adequados,
leiam-se mediadores preparados, não haverá uma verdadeira política de
formação de leitores no Brasil.

A implementação destes programas - e de outros, como a
Cesta Básica do Livro, em tramitação no Senado - podem marcar 2009
como o momento da consolidação do livro e da leitura com política de
Estado no Brasil. Democratizando o acesso, fomentando a leitura,
valorizando a cultura e incentivando o desenvolvimento da economia do
livro. Há muito trabalho por fazer e o Brasil já tem um plano para
isso - o PNLL. Que saibamos cumpri-lo.

Dicas de leitura

A Princesa de Babilônia, de Voltaire
"O velho Belus, rei de Babilônia, julgava-se o primeiro
homem do mundo, pois todos os seus cortesãos lho diziam e os seus
historiógrafos lhe provavam. O que poderia desculpar-lhe esse ridículo
era que, com efeito, seus predecessores haviam construído Babilônia
mais de trinta mil anos antes, mas ele a havia embelezado. Sabe-se que
o seu palácio e o seu parque, situados a algumas parasangas de
Babilônia, se estendiam entre o Eufrates e o Tigre, que banhavam
aquelas ribas encantadas. Sua vasta residência, de três mil passos de
fachada, elevava-se até as nuvens. A plataforma era cercada de uma
balaustrada de mármore branco de cinqüenta pés de altura que
sustentava as estátuas colossais de todos os reis e de todos os
grandes homens do Império. Essa plataforma, composta de duas ordena de
tijolos cobertos de densa camada de chumbo, continha terra numa
espessura de doze pés; e sobre essa terra havia erguido florestas de
oliveiras, laranjeiras, limoeiros, palmeiras, cravos e caneleiras, que
formavam alamedas impenetráveis aos raios do sol.

As águas do Eufrates, elevadas por bombas em cem colunas
ocas, vinham até esses jardins encher vastos tanques de mármore e,
retombando por outros canais, iam formar no parque cascatas de seis
mil pés e cem mil repuxos cuja altura mal se podia perceber: voltavam
em seguida para o Eufrates, de onde provinham. Os jardins de
Semíramis, que espantaram a Ásia vários séculos depois, não passavam
de uma fraca imitação dessas antigas maravilhas; pois, no tempo de
Semíramis, tudo começava a degenerar entre os homens e as mulheres."
Leia o texto na íntegra


Banhos de mar, de Artur Azevedo
"Manuel Antônio de Carvalho Santos,
Negociante dos mais acreditados,
Tinha, em sessenta e tantos,
Uma casa de secos e molhados
Na Rua do Trapiche. Toda a gente
- Gente alta e gente baixa -
O respeitava. Merecidamente:

A sua firma era dinheiro em caixa.
Rubicundo, roliço,
Era já outoniço,
Pois há muito passara dos quarenta
E caminhava já para os cinqüenta.
O bom Manuel Antônio
(Que assim era chamado),
Quando do amor o deus (Deus ou demônio,
Porque como um demônio os homens tenta,
Trazendo-os num cortado)
Fê-lo gostar deveras
De uma menina que contava apenas
Dezoito primaveras,
E na candura de anjo
Causava inveja às próprias açucenas."
Leia o texto na íntegra

Favoritos

Euclides da Cunha (1866 - 1909)

"Ler Os Sertões e isso foi definitivo. O livro é tão rico,
tão estimulante, que compensa o esforço que eu tive a princípio para
entrar dentro da linguagem complicada de Euclides da Cunha. Para mim,
Os Sertões é das melhores experiências que tive como leitor. Foi
realmente o encontro com um livro muito importante, com uma
experiência fundamental. Um deslumbramento, realmente, um dos grandes
livros que já se escreveram na América Latina. E isso foi decisivo,
isso me deu toda uma curiosidade e um interesse enorme pelo tema de
Canudos e também pelo personagem de Euclides da Cunha. Assim nasceu a
idéia do romance [...] Utilizei, li com muito interesse os artigos
que Euclides da Cunha havia escrito antes de ir a Canudos, os artigos
que escrevia no jornal O Estado de S. Paulo, e depois as crônicas que
ele escreveu quando estava na Guerra, e tudo isso era muito distinto
do que ele escreveu mais tarde em Os Sertões. Essas contradições,
essas mudanças de perspectiva, de opinião, para mim foram muito úteis.
Há um personagem na novela que não existiria se não fosse por Euclides
da Cunha, embora use muito Euclides da Cunha, que é o Jornalista
Míope".

Mario Vargas Llosa fala sobre como usou a obra de Euclides
da Cunha para escrever A Guerra do Fim do Mundo.


a.. Biografia, bibliografia e teses sobre Euclides da Cunha
b.. Cronologia
c.. Dados sobre a vida e obra de Euclides da Cunha

Livros de Euclides da Cunha na íntegra


a.. Os Sertões
b.. À margem da História, na íntegra
c.. Peru versus Bolívia
d.. Ondas e Outros Poemas Esparsos

Vídeos

a.. Trecho de Deus e o Diabo na Terra do Sol, filme de
Glauber Rocha
b.. Trecho de Desejo, minissérie sobre Euclides da Cunha
c.. Trecho da montagem teatral de os Sertões, feita
pelo Teatro Oficina
d.. Trecho de Epopéia Euclydeacreana, documentário de
Charlene Lima e Rodrigo Neves